Semi deuses adormecidos
Na ponta desta pirâmide estão os respeitados “titios da MPB”, importantes criadores do movimento Tropicalista, do rebolado que escandalizou platéias e da inteligência cínica. Caetano, Gil, Bethânia, Gal, Chico, verdadeiros ícones da música que foram criativos por um tempo e depois caíram em fórmulas próprias e de lá nunca mais saíram. Ney Matogrosso, Mutantes e Rita Lee e Djavan engordam esta geração que parecem olhar para nós e pensar: “ não precisamos fazer mais nada, vocês nos amam” ou “ eu posso de vez em quando pegar um sucesso popular e regravá-lo, porque vocês vão adorá-lo na minha voz e eu vou vender como nunca”.
Profetas que se repetem
Na camada seguinte da pirâmide temos uma geração de talentosos compositores e intérpretes, mas com a síndrome de lançar dois ótimos CDs e posteriormente utilizar a forma desgastada à exautão, sem experimentar novos caminhos. Suas maiores representantes são Marisa Monte, Adriana Calcanhoto, Zélia Duncan e Ana Carolina. Calcanhoto até lançou a uns quatro anos atrás um excelente trabalho direcionado para crianças e que agradou demais os adultos, o delicioso projeto “Adriana Partimpim”, mas o segundo trabalho infelizmente se repetiu na fórmula. Ana Carolina não conseguiu repetir nos demais lançamentos o frescor e potencial de seu primeiro cd. Hoje é figura carimbada de trilhas de novelas e lançou algumas músicas de gosto duvidoso como a terrível "Rosas" com a letra: “Porque eu gosto é de rosas, e rosas e rosas acompanhadas de um bilhete me deixam nervosa”... (burp!)
Ainda nesta camada tivemos importantes bandas de rock como Titãs e Paralamas do Sucesso. Ambas sofreram da mesma síndrome: excelentes primeiro e segundo CDs, depois não se renovaram. Cabeça Dinossauro dos Titãs foi inovador.
Isolados na pirâmide estão Elis Regina, Cazuza, Cássia Eller e Renato Russo (Legião Urbana) que tiveram muito em comum. Poesia, dor, riqueza nas composições, inconformismo, voz e muita atitude. Fico dividido em relação a estes, porque às vezes penso que se estivessem vivos mudariam o cenário. Sei lá, Elis com sua postura arrojada poderia estar cantando músicas com arranjos moderníssimos, Cássia ou Cazuza poderiam estar cantando músicas com influências do jazz e Renato poderia lançar um cd com forte influência do Radiohead. Enfim, mas às vezes penso que não. Dúvida...
Eu tentei, mas fiquei no mesmo
Mais abaixo temos uma geração, na sua maioria mulheres, como Vanessa da Mata, Maria Rita, Bebel Gilberto e Céu. Vanessa herdou a síndrome dos dois primeiros CDs. Maria Rita hoje assume que teve de ser lançada, por pressão das gravadoras, como praticamente a reencarnação da mãe e hoje luta para mostrar um trabalho diferente. Diferente? Bebel lançou o incrível “Tanto Tempo” e parecia ser uma esperança, mas o dois CDs subsequentes seguiram a fórmula e a receita não rendeu. Pena... Céu também veio com o excelente álbum de estréia misturando MPB e arranjos eletrônicos. Seguiu, no seu mais recente trabalho, “Vagarosa” a mesma fórmula e nos entediou. Ainda nesta geração, temos como representante masculino Ed Motta que ora lança seu funk soul, ora parte para o jazz e assim sucessivamente. Aliás cadê a nova geração masculina música brasileira? No “rock” temos O Rappa, que lançou trabalhos muito bons e depois se repetiu também.
Quem é quem?
Quase na base novas cantoras surgiram. Roberta Sá, Marina Dela Riva, Mariana Aidar talentosas na voz, mas que parecem iguais em forma e repertório. MPB + Sambinha. E Maria Gadu, que está fazendo um certo sucesso, mas tanto sua aparência como voz empostada parecem querer uma aproximação direta com Cássia Eller. Mas, está mais para sua versão banquinho e violão. Rock’n roll onde? Lançou seu primeiro cd e devemos esperar o segundo para ver se algum frescor vem. De repente...
Constrangimento
No chão temos constrangimento, principalmente no pop rock, com seus representantes como Pitty e bandas NXZero, Fresno, Restart que ganham “força” pelas gravadoras e pela ainda mais constrangedora e fake MTV e pelo Multishow. Aliás no 17º Prêmio Multishow, o diretor do evento, Guilherme Zonta, surpreendeu a todos pedindo demissão do cargo ainda no palco dizendo o seguinte: “...faz algumas edições que o prêmio virou um grande canteiro de gente ruim, artistas fracos, sem personalidade e apenas com apelo comercial. Não é possível que todo ano a Pitty ganhe alguma coisa. Só temos ela de cantora de rock no Brasil hoje? E essas bandinhas adolescentes? Restart, Cine… são tudo a mesma coisa”, desabafou Zonta. E ainda: “Já recebi um convite da MTV para dirigir o VMB desse ano, mas recusei. Oras, é justamente desse tipo de evento, com artistas de qualidade altamente duvidosa, de que quero fugir. Ruindade por ruindade, ficava por aqui mesmo”, completou.
Fico me perguntando será que na cena underground não tem gente boa preparada para despontar? Vamos respeitar os talentos dentro de suas fórmulas, mas a música brasileira precisa de novidades urgentes. Novas experimentações. Aliás hoje eu só apostaria em uma banda que poderia mudar esse cenário: Chico Science e Nação Zumbi.
Suas músicas continuam modernas. Pena que ele resolveu seguir os incríveis Cazuza, Renato e Cássia. Será que existe reencarnação?
(por Vitor Costa)
o mercado fonográfico ficou bem maluco, não é?
ResponderExcluirÓtimo texto Vitor, com uma reflexão ousada, crítica e pertinente. Realmente a indústria fonográfica está nos deixando malucos, como bem colocou o Rubens. Mas, permita-me alguns paratenseses. Sobre a questão "aliás cadê a nova geração masculina música brasileira", temos sim algus bons nomes, que a cada cd nos proporciona surpresas maravilhosas, cito dois que ouço com mais vigor, que são Zeca Baleiro e Moska, que outrora foi Paulinho Moska. Vale pesquisar as músicas deles e ouvir todas.
ResponderExcluirMas o que ocorre, a meu fraco ver, no geral, é que estamos tão condicionados a cada verão termos uma novidade, que bons músicos se vêem na obrigação de não se reiventar, pois "demos certos assim, vamos continuar". Como arte que é, a música perde muito com este pensamento. Infelizemente. Pois se reiventar é ousar, errar, mas buscar trazer algo de novidade. Poucos têm feito isso.
Parabéns novamente pelo posto.
Muito bons os textos, me senti impelido a comentar, até pq vcs sabem bem a minha ligação e paixão pela música. Concordo com o que foi dito mas acho q vc estah muito desacreditado da música, por mais que hoje não tenhamos mais a genialidade de Chico, Milton, Djavan, Caetano, Gil (que eu nunca gostei) e outros compositores, acho sim que têm coisas bacanas surgindo, só que nós temos a mania de sempre comparar com o que foi feito nos tempos de outrora, e obviamente isso frustra. Mas vamos levar em consideração a época, o perídodo da ditadura foi especialmente criativo, até pq havia essa necessidade de ir contra o sistema, de denunciar, mas havia tb o meod da censura, o que trazia as fantásticas composições de Caetano, Chico e sua turma, como Apesar de Você, mas hoje, mesmo eles não são geniais assim, falta de criatividade? não sei, talvez, mas com certeza a liberdade de expressão influenciou nisso tudo. Pertiente o comentário sobre a Maria Rita, eu sou fã dela e vcs sabem, desde o primeiro album, mas quem cresceu (como eu) ouvindo Elis e acompanhou a MR desde o início pode ver que elas sao completamente diferentes, obviamente há o DNA da mãe, mas isso não é cuilpa dela, não é td mundo que é abençoado com o DNA da Elis, mas vejo muito do pai dela tb, a mistura ficou boa, arranjos simples e elegantes, a favor da emoção e não da voz, palavra de quem jah foi em todos os shows dela em SP, e ela vem sim cada vez mais de desvencilhando da imagem da mão, imposta a ela, mais do que pela gravadoram pelo povo, que tavez achou que com MR Elis renasceria... ilusão. A Maria Gadu é ótima, as letras são boas, os arranjos idem, acho que foi um bom sopro de criatividade no cenário cansado da MPB, tem muita gt boa escondida, no show da Maria Gadu no Multishow ela levou um monte de gt bacana... vamos esperar e torcer... e eu vou parar por aqui senão não vai caber o texto todo no post... abs
ResponderExcluirMuito bom esse post!
ResponderExcluirEU concordo que a música brasileira em geral precisa de um novo frescor. Eu, como um admirador dos grandes mestres da MPB já citados, tenho que admitir que eles só representam um simbolo de uma geração que deu certo, mas que já deu o que tinha que dar em termos de originalidade, e que depois deles pouca coisa nova existe.
Concordo também com o Marcel quanto a talentos como o Zeca Baleiro ( o nome que atualmente eu aposto minhas fichas ), o Moska e outros nomes menos conhecidos. Alias me entristece que praticamente uma geração inteira de músicos nacionais , apesar de já não serem tão frescas assim mas que deixaram "descendentes", sejam praticamente desconhecidos. Os trabalhos da Vanguarda Paulistana, representada por Grupo RUmo, Premeditando o Breque, Itamar Assumpção, entre outros, o projeto bem teatralizado do Karnak, a música eletrônica do Projeto Axial para quem gosta de algo mais lounge, O Funk como le gusta que nos lembra que o funk de verdade nada tem a ver com esse pancadão que está espalhado por ai. Fora os descendentes diretos da vanguarda paulistana, o Danilo Moraes, Ricardo Teté, Iara Renó, Andréia Dias ( com influencias de rock , samba e brega ).. essa geração desconhecida (incluindo os muitos artistas por aí que eu tenho certeza que tentam galgar um caminho com sua música nova mas ainda não conseguiram espaço), eu acredito que poderia dar um novo fôlego para a MPB.